domingo, 29 de abril de 2012
Alice tem me roubado o siso.
Começo a entender o porquê denominar, sem critério algum, qualquer tipo que se faça inconstante, de bipolar. A verdade é essa mesmo: dois polos que divergem e são mal administrados pelo dono.
Uma inconstância padronizada. Que incomoda, afasta e isola.
Alice não admite, mas no fundo ela sabe que não se trata de transtorno psicológico, enquanto eu entendo e ganho tempo.
Amanhece e o dia parece conspirar a favor.
Ele sorriu, cumprimentou, inquiriu, quis, desejou.
A essa hora o dia é de sol com o cheirinho gostoso da chuva.
As vias são de caminhos de algodão.
Os sons das buzinas vem de harpas pós-moderna. O corpo flutua e as nuvens estão nos pés.
Ele parece não se importar com a cor dos dentes ou a falta de algum deles. Olha pela 23º vez pra ela, como se o corpo esculpisse a essência que há anos procura. Cada milimetrado movimento do olhar tem a atenção de quem procura uma única pista autoexplicativa do encantamento. As mãos não tem firmeza, parecem nervosas, mas diante da energia que hipnotiza, tudo se torna uma delicadeza despudorada e instigante.
Uma segura forma pudica de seguir em frente com olhos fechados.
As palavras fluem e parecem conversar até mesmo por pensamento. Não estão juntos, mas sabem-se em qualquer lugar. Diálogos são necessários na rotina imprevisível e tamanha sintonia faz o vento passar trazendo o exilar da pele, mesmo separados por curtos demorados quarteirões.
É gostoso conhecer mais uma forma infinita de amar.
A existência, pessoas, compromissos, música, coração, pele parecem ter o mesmo sentido à dois. É como olhar essa vasta imensidão pela mesma visão sem que se combinem. Daí o entrelaçar dos braços tornam-se legos de criança. Os lábios possuem poder de encaixe e fazer o mundo parar de dar voltas.
É intenso, desesperador, langoroso.
Se de uma outra visão a vida é feito comercial de margarina, seria eu e Alice a própria, se derretendo e esvaindo ao entrar em contato com este calor. Nesse momento somos Alice Maria ou Maria Alice. A ordem dos fatores não mais alterará o produto. Mas o importante é o que se é.
Alice diz até logo. Eu sempre penso: "é a ultima vez".
E as vezes é. A maioria das vezes são. Serão. Cada vez traz um "quê" de última vez.
Não me apego à de repentes, percebo mesmo quando não existe, o sorriso da cor amarela, quando o olhar fica distante e as mãos acariciam repetidamente a si mesmo e a própria barba.
A essência já lhe é conhecida e cotidiana. Abundância não desperta a atenção dele. Correr atrás do desconhecido é mais interessante. São fases.
Frases são mal compreendidas e a sensibilidade de outrora abre espaço para a falta de zelo e consideração. Grosseria lhe parece ser tão óbvio que eu passo ter certeza de estar perdendo minha capacidade de individuação. Fico atônita e minhas horas seguintes são destruídas.
É como apertar o botão de queimar liquidificador até chegar ao ponto da indiferença com uma pitada de esquecimento. Um dia uma nova receita é descoberta e o dissabor se inverte.
A apatia me assola por causa de Alice que fica chorosa, mas entre o vai e vem de tantos tamanhos, sinto que ela vem encontrando a medida certa e vem se afastando. Fico triste por ela ter a inocência da ilusão e se maravilhar com flores que nascem entre pedras, enquanto vivo uma realidade antropizada de pedras que jazem imóveis. Mas são apenas pedras. E pedras não ouvem, não falam, não sentem, não morrem. Pedras são pedras. Solitárias.
Nesse jogo de se e não, as pessoas burlam regras, confundem personagens, se desencontram, se perdem e FIM.
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